Latest Entries »

Dia 7 – Astorga a Vega de Valcarce
Distância – 95Km
Tempo gasto 10h30m

Este dia começou mal, foi fabuloso e terminou ainda melhor. Começou ás
6.20h com uma subida progressiva de 25 kms até á cruz de ferro, local
onde cada peregrino é suposto deixar uma pedra trazida do seu país.
Infelizmente a minha pedra portuguesa já faz parte do caminho pois
voou com parte da minha roupa das mochilas á alguns dias atrás.
Tive muitas dores hoje nos tendões de aquiles de ambos os pés nos
primeiros 30 kms de agonia e dor. Depois de chegar ao topo da montanha
as dores melhoraram e senti algum alivio com a descida vertiginosa e
perigosa! Nesta montanha conheci pessoas únicas! Uma família Francesa
de 5 pessoas que ia percorrer o caminho nos proximos 3 meses, sendo
que eram mariodo, mulher e 3 fillhos. Os filhos tinham 2,4 e 6 anos. O
de dois anos era transportando pelo pai num carrinho de mão, e os
outros dois tinham as suas mini-bicicletas e andavam alegremente a
pedalar montanha abaixo. Avistei uma pessoa isolada e sentada no chão
no "meio de nada" e aproximei-me para saber se estava bem! Era um
jovem Frances que estava a tocar a sua guitarra. Durante a conversa
disse-me que tomara a decisão de ser músico e andava no caminho de
santiago á procura de inspiração para compor musica.
Quando ia a descer a montanha cheguei áo albergue do Tomás, um
ex-monge da ordem dos templários, que por aqui ficou e construiu um
albergue de peregrinos muito original. Deu-me conselhos para a
descida, falou-me da vida simples e descomplicada que levava no cimo
daquela montanha. Disse-me que não saia mais dali pois "encontrara o
seu caminho", nem mesmo no inverno em que armazenava comida e lenha
para 100 dias. Ofereci-lhe a bandeira dePortugal que trazia comigo
pendurada na bicicleta para que ele colocasse numa das paredes da casa
onde tinha algumas de outros países. Falei ainda com uma Americana e
um Neozelandes que estava com graves problemas nos joelhos após a
descida da montanha. Fiz a boa acção do dia e dei-lhe os dois
comprimidos anti-inflamatorios que trazia comigo para as
eventualidades do caminho. Ao fim de mais 95 kms estenuantes, cheguei
ao Albergue do Brasil, onde o Itabira Cunha me recebeu muito bem. Este
albergue foi aberto por ele há dois anos atrás e ele decidiu vir para
cá e está a fazer um esforço para mostrar a cultura brasileira aos
peregrinos de todo o mundo. O jantar foi típico basileiro e á mesa
estavam 1 Hungaro (que vem a santiago e volta a pé para casa), 1
Brasileiro, 2 Espanhois e 2 Finlandesas e aqui o Português. Todos nos
apresentámos e comemos em conjunto, falando cada um da sua experiência
pessoal sobre o caminho e de como ele nos tinha ensinado algo de muito
mágico. Estou agora a ouvir uma musiquinha brasileira, deitado numa
rede a descansar as pernas demasiado desgastadas.

Informação adicional:
saindo de Astorga e passados dez quilometros estáva em Rabanal. O
Monte Irago foi trepado em pouco mais de 2.30h. É duro mas faz-se!. A
verdade, porém, é que a subida, assim como todo o caminho e todas as
dificuldades ou alegrias são diferentes para cada um. Para mim, a
subida foi forte, mas muito menos do que esperáva. Amanhã tenho outra,
a do El Cebreiro, que também dizem que é pesada. A subida até
Foncebadón é feita por uma estradinha tortuosa. Dá para ver, a cada
metro que se sobe, toda a paisagem que ficou para trás. Ao lado da
estrada, pequenas flores brancas e amarelas dão um colorido todo
especial ao caminho. Realmente, é uma alegria para os olhos ver toda
essa cor (o únco problema são as abelhas e outros insetos em busca do
pólen, que a todo momento batem na cara).
Foncebadón fica a aproximadamente a quatro quilometros de Rabanal e é
uma vila praticamente fantasma. O último censo oficial aponta que
apenas cinco pessoas moram lá, embora existam muito mais casas do que
isso. Essa paragem funciona como um descanso para os próximos dois
quilometros que faltam para atingir o pico máximo do Monte Irago, onde
está colocada a Cruz de Ferro, a 1.504 m de altitude. A visão desse
monumento simples, mas especial, pois o monmento é um tronco de cinco
metros de altura em cuja ponta está fincada uma cruz de ferro, e que
tem em sua base um monte formado pelas pedras que os peregrinos atiram
para ter boa sorte. Alguns peregrinos amarram fitas, deixam mensagens
e objectos ao pé da cruz. Ao lado, foi construída a ermita de
Santiago, que está toda escrita com mensagens de peregrinos.
Depois da Cruz, foi um sobe-e-desce de mais ou menos três quilometros,
para, finalmente, começar a descida mais alucinante que fiz na
viagemiagm. Passei por Manjarin, um povoado abandonado, El Acebo,
cuja rua principal é a própria estrada e terminei a descida em Molina
Seca, outra cidade muito pequena (menos de mil habitantes). A próxima
cidade do trajeto foi Ponferrada, com mais de 65 mil habitantes e uma
boa surpresa para nós. A cidade é grande e tem vários atrativos, entre
eles um autêntico castelo de cavaleiros templários (soldados que
defendiam os peregrinos) e uma basílica muito bonita, da Virgen de la
Encina, além da igreja de San Andres, localizada ao lado do castelo.
Ponferrada tem o nome oriundo de uma ponte mandada construir pelo
bispo Osmundo, no século XI, para facilitar a vida dos peregrinos.

Amanã segue a viagem e js só faltam 167 kms…

Paulo Reis


+—-+
+—-+—-+
+–+ ++
+-+ /
++ /
\ /
\ /
/
*´¨) W
¸.·´¸.·*´¨) ¸.·*¨)
(¸.·´ (¸.·` * Paulo Reis
.·´¯`·.·´¯`·.
.·´ `·. .·´¯`·.
.·´¯`·._.·´ `·._.·´¯`·.

Oi Pessoal,
 
Acabei a minha setima etapa e estou alojado no Albergue do Brasil, gerido pelo Itabyra Cunha. O albergue tem um ambiente muito especial e agradável vejam no link que se segue toda a historia deste albergue que foi fundado há dois anos.  Vejam tambem no website o mapa interactivo para saberem a minha posicao em relacao a Santiago de Compostela.
 
 

Dia 5 – Burgos a Sahagun

Dia 5 – Burgos a Sahagun

Distância – 140Km
Tempo gasto – 11h00m

O dia começou cedo ás 7.30h com uma visita á Catedral de Burgos e
segui viagem. Encontrei dois idosos alemães em bicicleta e fomos-nos
cruzando várias vezes e sorrinfo, pois comunicar era díficil pois eles
só falavam alemão! A certa altura perdi-os de vista e só os voltei a
ver6 horas mais quando parei para almoçar. Para mim hoje foi o dia dos
planaltos e panícies intermináveis. Pedlei durante 10 horas sempre
acima dos 800m do nível do mar com temperaturas de 38 Graus. O tempo
muda por aqui de uma forma muito abrupta, ainda ontém estiveram 10
grsus e hoje um calor infernal. O terreno hoje era bastante
acidentado, mas sem grandes desniveis o que contribuiu para eu ter
conseguido fazer 140 kms pelo segundo dia consecutivo. Fisicamente
sinto-me muito bem e depois de 560 kms só me doi um pouco o Tendão de
Aquiles de um pé devido ao esforço.
Logo pela manhã avistei no mei de um bosque uma casita rústica pintada
com cores psicadélicas e fui investigar. Era um albergue de hippies, o
cheiro que vinha de dentro do albergue era bastante estranho. O dono
esplicou-me que tinha vindo fazer o caminho á dois anos atrás e
avistou uma casa em ruínas no meio de nada e ocupou-a pois
apaixonou-se pelo sitio e pelas pessoas que por ali passavam
(peregrinos loucos de todo o mundo). Começou a ir comprar bebidas á
cidade mais próxima e abrir um bar no meio de nada, conforme foi
ganhandouns trocos, pintou e construiu o tecto. Hoje em dia gere o
albergue com a namorada e durante seis meses por ano vive das
contribuições dos peregrinos.
À parte desta paragem, tive um dia monótono, em que ultrapapassei
milhares de peregrinos a pé e conheci um casal de italianos que
seguiam pela estrada e que me tentaram convencer a seguir com eles,
pois seria menos duro e eu estava bastante cansado. Recusei, pois
mantenho-me fiel á minha vontade de seguir sempre pelo caminho
aconteça o que acontecer!
Hoje inaugurei um ritual chamado "Happy hour do peregrino Tuga" e
passo a explicar: Como só tenho uma pilha recarregável para ouvir
música no MP3 durante cerca de horra e meia, tenho de escolher um
momento de estrema felicidade durante o dia para gozar deste
privilégio. Hoje o momento zen do happy hour foi quando subi aos 1200m
a pé arrastando a bicicleta com 25 kgs, algo que já domino na
perfeição e que até já me dá algum gosto masoquista e em seguida desci
durante meia hora sem ter de pedalar.
Ao chegar ao Albergue de Sahagun vi um velhote de barbas brancas, com
ar debilitado e perguntei se precisava de ajuda? Respondeu-me que
apenas lhe doiam muito os pés. Começamos a conversar e disse-me que
tinha 82 anos e esta era o terceiro ano consecutivo que vinha a pé até
Santiago, desde a Bélgica. Fazia uma média de 40 kms ao dia (um
peregrino normal faz 20-25 kms ao dia) e alimenta-se apenas de frutos
secos, água e vinho! Uma personagem fantástica!
A confiança vai aumentado a cada dia e a meta final já não assusta e
até estou a gostar de sofrer tanto. Chamem-me masoquista, mas tudo que
vejo e vivo por aqui são ensinamentos preciosos e exercicis de
auto-conhecimento fantásticos.

Informação adicional:

A saída de Burgos foi fácil. Apanhei uma estrada nova, limpa e bem
sinalizada – em direção a León. Os primeiros 20 quilómetros foram
fáceis, apesar das subidas, que, afinal, não eram tão difíceis, embora
intermináveis. Até então, nada de vilarejos ou povoados, uma novidade
para mim, que passei os últimos dias a parar a cada 10 quilômetros no
máximo para ver e fotografar uma vila ou uma igreja com no mínimo 200
anos de existência.
TDurante grande parte do dia os caminhos são absolutamente paralelos
em grande parte do percurso e a distância entre eles não chega a 10
metros.
Depois de quase 40 quilómetros, entrei num vilarejo chamado
Villasandino. A sua igreja, dedicada a Nossa Senhora de la Assunción,
guarda ainda traços muito marcantes da época em que foi construída, no
século XIII. Ampla, com uma nave central única com mais de 20 metros
de altura, com uma decoração despojada, parece que continua igual ao
que era na Idade Média. O vilarejo, que já teve 1.600 habitantes, não
tem hoje mais do que 150, a maioria aposentados. A partir daí foi
percorrer as planícies de Castilla e Leon em direção à Palência foi,
como era de esperar, uma dureza, principalmente por conta do sol que
não deu tréguas e um vento de frente que não tornou a minha vida nada
fácil. De Castrojeriz passei por Itero Del Castillo, a última cidade
de Castilla e Leon antes de Palência. Antes de chegar em Frómista,
passei por Boadilla Del Camino, um vilarejo com 200 habitantes. Passei
por Frómista com vontade de chegar a Carrión de los Condes, o detalhe
negativo para o Caminho é que a via dos peregrinos, totalmente
sinalizada com postes que continham uma espécie de azulejo azul com um
alto-relevo da concha-símbolo do Caminho em amarelo, foram todos
surrupiados por peregrinos. É uma pena que existam pessoas que ainda
pensam que é engraçado levar "souvenires" destes para casa. O Caminho
perde com isso, os peregrinos ganham má fama e aqueles que roubaram as
peças com certeza não puderam utilizá-las, pois muitas estavam
partidas na berma do caminho. Sahagún é onde me encontro de momento,
uma cidade com pouco mais de 3 mil habitantes, distante cerca de 50 km
de Carrión de los Condes.

Amanhã á mais…

Paulo Reis


+—-+
+—-+—-+
+–+ ++
+-+ /
++ /
\ /
\ /
/
*´¨) W
¸.·´¸.·*´¨) ¸.·*¨)
(¸.·´ (¸.·` * Paulo Reis
.·´¯`·.·´¯`·.
.·´ `·. .·´¯`·.
.·´¯`·._.·´ `·._.·´¯`·.

O Flakito é o pergrino de quem vos falei que anda a percorrer o "Caminho de Santiago" nos próximos 3 meses a distribuir a sua musica…

 

Vejam o seu website em:

http://www.flakito.net/

 

CD song lyrics

 

La Hamaca Entre Dos Estrellas (Flakito)

En camino, me di cuenta que no hay camino
Camino se hace al caminar
Algunos afortunados caminan juntos toda la vida
Y a otros, nos toca separar

Voy a colgar mi hamaca entre dos estrellas
Mirar la luna navegar entre los horizontes
Voy a soltar mis sueños entre las nubes, ellas
Los sabrán sembrar, mejor que yo, en el monte
Más allá …

Un paso pa’ delante y un paso para atrás
El “progreso” tiene su precio, hay que aclarar
Conflictos de interés, el afán de siempre tener más
Desde otros puntos de vista hay que mirar

Voy a colgar mi hamaca entre dos estrellas
Mirar la luna navegar entre los horizontes
Voy a soltar mis sueños entre las nubes, ellas
Los sabrán sembrar, mejor que yo, en el monte
Más allá …

Buscar en lo cotidiano lo sagrado, la belleza
Hallar la alegría que se esconde entre dolencias
Integrar lo humano como parte de la naturaleza
Y quitarle tanta injusticia e indiferencia

Voy a colgar mi hamaca entre dos estrellas
Mirar la luna navegar entre los horizontes
Voy a soltar mis sueños entre las nubes, ellas
Los sabrán sembrar, mejor que yo, en el monte
Más allá … más allá … más allá …

Dia 6 – Sahagun a Astorga

Distância – 110Km
Tempo gasto 10h00m

Hoje decidi experimentar a técnica de acordar cedo e começar a pedalar de noite. Começei as 5.45h e dei-me mal, pois até amanhecer perdi-me constantemente. Tive uma situação curiosa quando perdi o caminho e fiquei no "meio de nada" sem saber o que fazer e decidi seguir o instinto e traçar o meu próprio caminho pelo meio da lama a pé por 3 kms (foi optimo). Logo em seguida fui brindado com uma area de serviço, onde lavei e lubrifiquei o meu meio de transporte. À parte disto, o dia foi muito identico ao de ontem, com um sol abrasador e muitos kms nas pernas. Passei a noite apreensivo, pois no dia anterior tinha tido uma dor forte no tendão de aquiles e sofrido horores para terminar a etapa. Durante a noite tive as dores presistiram e pensei que o meu caminho podia estar comprometido. Após os primeiros kms do dia a dor desapareceu e depos de mais uma centena de kms felizmente não voltou a aparecer. Ao fim deste sexto dia e com 550 kms nas pernas começei a sentir o peso real dos kms acumulados e das inumeras horas a pedalar.Sinto-me fraco, debilitado e desidratado. Já só faltam 250 kms para chegar a Santiago, mas amanhã voltam as montanhas e vou ter de passar pelo ponto mais alto do percurso a 1500m de altura e não sei se vou conseguir ir muito longe amanhã?? A meio do dia passei por Leon onde tive dificuldades em movimentar-me, tendo perdido 1.45h a ver os monumentos e a atrevessar a cidade no meio do transito intenso. Hoje o dia foi extremamente monótono e terminou mais cedo por volta das 16.30h. O gerente do Albergue é um Portugues de Viseu que me pos ao corrente que dois portugueses em bicicleta e uma portuguesa a pé tinham por ali passado nos dias anteriores. Encontrei também no albergue um miúdo Italiano com quem falara em Burgos que está a fazer o Caminho por estrada numa "bicicleta pasteleira". Nos últimos dois dias fez as mesmas etapas que eu só que saiu mais tarde e sofreu muito mais.

Nota extra: Hoje durante as longas horas de intropecção e busca da razão por estar a passar por tudo isto, lembrei-me da primeira vez há 8 anos atrás que ouvi falar deste caminho milenar e desde aí sonhei percorré-lo. Soube do caminho através de um amigo que é uma pessoa muito especial e um exemplo de vida! Chama-se Ranimiro e é um praticante de parapente brasileiro que teve a infelicidade de perder uma perna num acidente! Desde aí nunca mais parou de participar em aventuras, como continuar a voar de parapente, fazer Rafting na Nova-zelandia, escalar montanhas de 8000m no Tibete e fazer o caminho de santiago em bicicleta, tudo isto com a sua única perna. Desde que li o seu relato da viagem e vi as suas fotografias que iniciei o meu "Caminho de Santiago" em sonhos…Hojr estou a concrtizá-lo.

Informação adicional:
Depois de Sahagún, passei por Calzada Del Coto e, novamente por falta de sinalização, perdi a entrada para El Burgo Ranero. Segui em direção a Mansilla de las Mulas. Daí para León foi uma pedalada só, de 20 quilometros. O sol torrava e só começei a subir um pouco quando faltavam quatro quilometros para chegar. Depois dessa subida, uma boa descida até a cidade, que tem cerca de 140 mil habitantes. A viagem até Leon é monótona e sem sentido, há pouca coisa para ver e é razoável imaginar que o peregrino que vai a pé, com um sol destes na cabeça por quilometros sem fim, começe a imaginar coisas. Ontem, vi varios peregrinos com princípio de insolação, incluindo a "minha pessoa".
Em Leon, o passeio pela cidade levou-me à Catedral de Santa Maria de la Regla, a catedral de León, uma das obras-primas do gótico espanhol e que rivaliza com a catedral de Burgos como uma das principais construções religiosas da Espanha.
A catedral de Santa Maria foi construida no século XII. León tem quase 140 mil habitantes, um trânsito maluco.
Passei por uma rua que exibe uma espécie de castelo, obra de Antonio Gaudí, datado da segunda metade do século 19 e que hoje abriga uma instituição financeira. Na mesma rua, vários bares colocam mesa e cadeiras no passeio para que as pessoas possam tomar café e admirar o movimento. Passei também pela Basílica de Santo Isidoro, cujos registros datam de 1063.
Pedalei 55 kms de León a Astorga, cidade com pouco mais de 12 mil habitantes e muito simpática. Resovi fazer mais estes kms pois cheguei cedo a Leon e resolvi adiantar o passo e diminuir o sofrimento que me espera amanhã, quando subir o temível monte Irago até Foncebadón, onde está a Cruz de Ferro, para possivelmente pernoitarmos em Ponferrada.
A viagem até Astorga não teve qualquer emoção. Passei por vários vilarejos – Trobajo Del Camino, La Virgen Del Calmino, Valverde de La Virgen, San Miguel Del Camino e Villadangos Del Páramo – e, em nenhum desses lugares vimos qualquer sinal de vida. As igrejas estavam fechadas e não havia nenhum movimento nas ruas.
A situação só melhorou quando entrei em Puente de Orbigo, uma ponte sobre o rio Orbigo, conhecido por ser palco de inúmeras batalhas, entre elas aquela em que o rei Alfonso III, "el Magno", enfrentou as tropas cordobesas, no ano 900. Porém, o nome de "Passo Honroso" deve-se ao facto de que em 1434, o cavaleiro leonês Suero de Quiñones e nove seguidores, enfrentaram, por trinta dias, todos aqueles que ousaram passar pela ponte, como "resgate" de sua prisão de amor por uma certa senhora. Depois disso, Suero foi a Compostela e entregou uma bracelete de ouro de sua dama ao apóstolo Santiago. É por essa e outras histórias, que se contam aos milhares, que o caminho de Santiago se torna mágico.
Em seguida, quase que pegado a Puente, está o Hospital de Orbigo, local onde foi mandado construir um hospital para ajudar os peregrinos.
Astorga é uma cidade com 2 mil anos de história e é como se fosse um imenso monumento. Existe uma muralha que passa ao lado do convento dos Padres Redentoristas, a Catedral de Santa Mariía, em estilo gótico e que teve a sua construção iniciada em 1471. Ao seu lado, o Palácio Episcopal, uma obra em estilo gótico de Antonio Gaudí, terminada em 1913, e que abriga o Museu de Los Caminos.

Amanha continua…

Paulo Reis

Dia 4 – Logrono a Burgos

Dia 4 – Logrono a Burgos

Distância – 140Km
Tempo gasto – 13h00m

Fiz neste dia tantos kms como os que fiz no somatório dos 3 dias anteriores. Exagerei um pouco e não vou voltar a fazé-lo, embora me sinta bastante bem fisicamente. Parte da experiencia deste caminho, passa pelas pessoas que se conhecem e de tudo o que vivenciamos e não quero perder isso com a possibilidade de poder fazer muitos kms diários. Hoje consegui perder metade da minha roupa e o camel-bag, pois deixei uma das bolsas das mochilas abertas e elas voaram dali para for ao longo do dia. Não estou preocupado com isso, pois já me consegui habituar a sobreviver com muito pouco, como a maioria destes peregrinos. Hoje foi outro dia solitário de bicicleta e agora perdi os espanhois a quem já me habituara de encontrar ao fim do dia para falarmos sobre as dificuldades do dia. Aqui em Burgos encontrei mais peregrinos em bicicleta, mas que desistiram de fazer o caminho devido á dificuldade e seguem até Santiago pelas estradas. Ao longo do dia fui sempre parando e falando com brasileiros, neozelandeses, bulgaros, coreanos, italianos, espanhois e franceses. A vantagem de fazer o caminho em bicicleta deve-se ao facto de se conseguir fazer mais kms do que a pé e cruzamo-nos com muito mais gente. Encontrei hoje um peregrino que pertencia à "Amnistia Internacional" e está a fazer o caminho (previsão de 3 meses para terminar) com os seus instrumentos musicais (incluindo um acordeão pesadissimo), dando concertos "one man show" em cada povoação que passa. Transporta consigo também milhares de panfletos da"AMI"e Cds da sua música que vende e cujos fundos vão para a AMI. Estive a falar também com uma peregrina que ia até Santiago montada na sua bela égua. Quando a encontrei e abordei, estava ela parada na berma. Comentei que a égua era linda e ela disse-me que a égua decidira tirar uma soneca e que quando isto acontece só lhe resta esperar. Contou-me que faziam cerca de 20 kms por dia e das dificuldades que tinha diáriamente. Era díficil encontrar lugares onde dormir e onde pudesse guardar a égua, tinha de procurar comida diariamente para a égua, bem como preparar e carregá-la diáriamente.
Desculpem a escrita, mas não existe nunca tempo para mais nada e corrigir o que quer que seja depois de tantos kms no lombo é algo que o meu cerebro não aguenta. Tenho de ir descansar, pois amanhã vou tentar fazer mais uns poucos dos 500 kms que me restão até Santiago, pois 300 já estão feitos. Estou fascinado com tudo isto e ainda não vou a meio e se pudesse começava já tudo de novo. Existe realmente algo de mágico neste caminho e já sinto que faço parte dele e muitas vezes ao longo do dia sinto que algo de especial acompanha todo este grupo de nómadas temporários por esses "caminhos de cabras fora"! As pessoas das povoações são muito delicadas e estão sempre prontas a orientar e ajudar um peregrino.

Informação adicional:

A primeira cidade que encontrei pela manhã foi Nájera e em seguida Santo Domingo de La Calzada, uma pequena cidade com quase 6 mil habitantes, porém uma das mais importantes para o caminho. Conta a história que um homem, chamado Domingo, desgostoso por não ter conseguido entrar para uma ordem religiosa após vários anos de estudo, resolveu ajudar os peregrinos, que já caminhavam em direção a Santiago de Compostela. Domingo construiu a catedral, uma ponte e o albergue, que existem até hoje. Depois de sua morte, a cidade tomou o seu nome. Além disso, uma das lendas mais conhecidas do Caminho vem dessa cidade: um casal levava seu filho Hugonell para se casar numa das cidades vizinhas, quando resolveu pernoitar em Santo Domingo. Numa taberna, uma mulher que servia as mesas apaixonou-se pelo rapaz, porém não foi correspondida. Para se vingar, colocou uma taça de prata na bagagem do noivo e acusou-o de furto. Hugonell foi condenado à morte pelo crime. Seus pais, desesperados, recorreram ao corregedor da aldeia que disse que ele só se salvaria se a galinha assada que estava para ser comida voltasse a viver. Nesse instante, a galinha cantou. Daí, o refrão "Santo Domingo de la Calzada, donde canto la gallina después de asada" . A partir desse dia, foi colocado um galinheiro dentro da igreja, que permanece até hoje. É considerada boa sorte quando o galo canta quando um peregrino sai da igreja. A catedral é uma verdadeira obra de arte. Bela e riquíssima, é extremamente bem conservada. A viagem continuou em ritmo de subida até Belorado, pouco mais de 23 km de Santo Domingo. Por muitos quilómetros acompanhei peregrinos que vão, em seu passo lento, amparados por cajados de madeira ou bastões para alpinismo de última geração – alguns feitos até mesmo de fibra de carbono – bem ao lado da rodovia N-120. O tempo esteve encoberto até Burgos e passei por uma imensidão de verde proveniente das plantações de trigo.
Em Villafranca Montes de Oca, vi uma placa: 6 graus de inclinação nos próximos 3 quilômetros e subidas até aos 1300m. Naturalmente, não desisti pois já muito poucas coisas me podem desmotivar neste caminho. A chegada a Burgos é um pouco complicada. A cidade é grande para os padrões do Caminho, com cerca de 170 mil habitantes, e às 18.00h, o trânsito estava muito mau e foi díficil encontrar o belo albergue de Burgos.

Amanhã continua…

Paulo Reis

Dia 3 – Roncesvalles a Puente la Reina

Distância – 75Km
Tempo gasto – 12h00m

Mais um dia de sol, duro mas com paisagens lindíssimas. Para mim foi o dia dos furos (3 furos) e da lama interminável. As emoções e ensinamentos que o caminho nos transmite estiveram presentes. No dia anterior disse a vários peregrinos que o meu objectivo era fazer 100 kms no dia seguinte e todos aqueles que conheciam o percurso me olhavam com um ar aterrorizado, mas só mais tarde sofri na pele o esforço a que me sujeitei para atingir essa meta. A partir de hoje não há mais metas, senão o de eventualmente chegar a Santiago de Compostela e mesmo esse passou a ser secundário para mim. O importante é percurso e não objectivo, isso fica gravado na mente de cada uma das pessoas que por aqui anda e é isso que ajuda a manter a sanidade mental de quem tem tanto que sofrer ao longo deste fantástico caminho. Diariamente passo de estados de espíritos de extrema alegria para em seguida estar desesperado e a pensar deistir, mas pedalada atrás de pedalado lá sigo sempre o meu caminho, encontrando centenas de peregrinos com um sorriso nos lábios. O dia de hoje começou às 7.00h quando um dos meus companheiros espanhol me acordou conforme combinado. Como já tinha arrumado praticamente tudo na noite anterior despachei-me e parti sozinho com a promessa de nos encontrarmos os 5 betetistas mais adiante. Logo cedo já havia muitos peregrinos a pé em marcha, parei para tomar um belo pequeno-almoço no único bar aberto na povoação vizinha que aos poucos foi ficando cheio. Encontrei aí os meus amigos Nick (Australiano), Ana Paula (Brasileira) e muitos outros. Foi curioso assistir ao Nick que decidiu deitar for a alguma da roupa que trazia pois o peso da mochila era demasiado. Isto foi acontecendo com mais peregrinos ao longo do dia, pois via-se roupa espalhada ao longo do caminho. A lição que tiro disto, é que as pessoas conseguem despojar-se de muito daquilo que lhes traz conforto quando assim o desejam! Juntei-me nessa altura ao "grupo dos espanhois das bicicletas" e seguimos juntos. Dois deles andaram mais e eu vinha na conversa com um dos outros quando ele furou um pneu. Remendámos e seguimos, para 500m á frente estar outra vez furado pois tinha sido mal reparado. Não me alongando muito, este processo repetiu-se 3 vezes perdemos 1 hora. Comçei a ficar farto da situação, disse adeus e segui sozinho na primeira subida que vi. Nas duas horas seguintes pedalei sozinho, para depois encontrar os outros dois elemento do grupo. Diss-lhes que os outros deviam vir com uma hora de atraso, pois quando os larguei o ritmo era baixo. Acharam que eu devia vir a um ritmo muito forte e ficaram logo para trás. Uns 5 kms mais á frente tive o meu primeiro furo e eles seguiram pois eu fui rápido e estava quase pronto quando passaram. Entretanto passam também os dois espanhois retardatários, que afinal não eram assim tão retardatários como isso! Resumindo encontrá-mo-nos todos uns kms á frente e decidimos que iamos todos juntos, pois afinal tinhamos ritmos identicos. Fui por ar no pneu numa bomba de gasolina e eles seguiram a estrada onde seria suposto esperaem por mim mais adiante. A subida era imponente, deixei de indicações do caminho e fui subindo, estranhando não os encontrar! Ao chegar ao alto encontrei alguns peregrinos a pé e uma placa e fiquei mais descansado e a pensar que pedalava como uma lesma, pois não conseguira juntar-me ao grupo. Embrenhei-me na floresta na subida do alto do erro. O nome sujestivo deste alto deu-me que pensar muito nas horas seguintes porque: Na floresta tive uma sensação "Deja vue" e fiquei assustado. Pois tudo o que via tinha quase a certeza que era conhecido! Só me apercebi que estava a fazer o mesmo percurso de novo quando encontrei as pegadas do local onde reparara o furo. Fiquei tão chateado, desesperado e sem saber o que fazer. Decidi o obvio, descer de novo a montanha até ao ponto onde me perdera para constatar o terível erro que o grupo cometera por partirmos juntos, em amena cavaqueira e distraidos. Não voltei a ver os outros e pensei que tinha sido o burro e que eles se tinham apercebido do erro e regressado. Isto, o facto de ter perdido 1.30m e feito 10 kms extra atormentou-me o resto do dia. O que valeu foi a beleza do enlameado caminho, onde a certa altura mergulhei vestido no rio gelado para me limpar de tanta lama. O dia foiseguindo, pasei por Pamplona , e mal sabia eu que teria de subir um outro monte, também com o nome sujestivo de "Alto do perdon". A partir de hoje passei a ter medo da palavra "alto" em espanha, pois para mim, até ao presente momento, só significa sofrimento brutal. Com muito custo conseguí chegar ao refúgio de "Puente la reina", lavei a roupa, tomei banho e quando ia jantar aparecem os 4 betetista, que j ulguei nunca mais vir a vé-los! Resumindo, o esperto fui eu que desci o monte de novo e eles continuaram e desceram para mais longe ainda e chegaram ao refúgio 2 horas depois de mim, num estado muito débil! Amanhã vou ter de seguir viagem, agora sem grandes planos, nem vaticínios sobre a dificuldade da etapa.

Dados adicionais :

A primeira cidade depois de Roncesvales é Burguete, uma cidade praticamente fantasma onde não se vê ninguém na rua. E assim foi em todas as vilas em que passei durante o dia, excepto em Pamplona, cidade grande, moderna e centro regional de Navarra.
No meio do caminho fica Zubiri, onde existe uma ponte gótica datada do século XV construída sobre o rio Arga. A pequena Larrasoaña, no vale do Esteribar, também tem uma ponte medieval do século XV, chamada "puente de los bandidos", por causa dos bandoleiros que ficavam à espreita dos viajantes para roubá-los. Hoje, essa situação não existe. Desde o século XII a cidade é citada em relatos peregrinos. Nesta zona avistei muitos ciclistas de bicicleta de estrada pelos simples motivo: primeiro, porque a topografia é excelente para quem aprecia bicicleta, com várias subidas fortes e depois porque nessa região vive o pentacampeão do Tour de France, Miguel Induraín, que nasceu em Villava, localidade bem próxima a Pamplona. No caminho, vimos grandes plantações de aspargos, famosíssimos em todo o mundo e uma espécie de tradição gastronómica local, ao lado do jamón serrano, esse sim preferência nacional.
A chegada a Pamplona foi um pouco complicada. A cidade é grande e tem vias de acesso muito movimentadas. É preciso muito cuidado e atenção aos caros. Ao chegar, uma das primeiras visões é a da Catedral Metropolitana, construção datada do século XIII e modificada através dos tempos por inúmeros arquitetos (o último deles refez a fachada, agora em estilo neoclássico).
Na parte velha de Pamplona, as ruas não têm mais de cinco metros de largura e mal passa um carro. A situação piora porque a cidade está em obras. Essa parte de Pamplona é belíssima e está bem conservada. A arquitetura local é muito interessante e forma uma espécie de mosaico pelas ruas estreitas.

Em Puente la Reina, . Na entrada existe a , uma estátua de peregrino, para simbolizar o ponto onde os caminhos de Roncesvalles e Somport se encontram para seguirem juntos até Santiago de Compostela. A cidade é toda em estilo medieval, com ruazinhas estreitas e prédios bem conservados. A maior atraçao, porém, é a ponte sobre o rio Arga, construída para ajudar os pregrinos na travessia entre o ano 1000 e 1035. Em estilo romano gótico. Suas igrejas mantem o mesmo estilo que encontramos desde Saint Jean Pied Port, cada uma delas com objetos ou histórias muito interessantes.

Até amanhã,

Paulo Reis

Dia 3 – Puente la Reina a Logrono

Distância – 80Km
Tempo gasto – 12h00m

Mais um belo dia, com paisagens muito lindas. Um dia com muitas atribulações, mas já pouco me importo com as dificuldades pois apercebi-me que fazem parte do caminho. Acordei ás 7.00h e estava um pouco dorido, mas lá me fui perparando para seguir. Reparei que tinha um furo e lá fui reparar o dito! Ao montar a camera de ar, furou de novo. Desesperado pedi remendos diferentes a um dos espanhois. Só desta vez reparei que havia un grande corte no pneu e tive de cortar uma camera de ar para reforçar a área. Apareceu um bioloo velhote alemão de 68 anos que se auto-intitula "bio-loco" com uma história de vida muito interessante que escreverei mais tarde. Resumindo, ele tinha tido uma experiencia de "quase morte" e decidiu passar o resto da vida extra que lhe foi concedida a ver o mundo. Regressa a casa de 3 em 3 meses e a mulher porvezes acompanha-o, outras não. Pedala um bicicleta com uma carga de 50 kgs e percorreu 1600 kms nos últimos 3 meses e quer chegar de bicicleta casa na alemanha. Está a fazer o Caminho de Santiago ao contrário e começou a pedlar em Portugal.
Vou ter de ser breve pois o Pocket PC está sem bateria…

O dia correu bem, fi-lo sozinho uma vez mais e sinto que nada vai impedir que chegue a Santiago, mas nunca se sabe… Hoje foi o primeiro dia que me senti bem a sério e os obstáculos foram encarados como mais um de muitos por que terei de passar. Hoje disseram-me por duas vezes que uma parte do caminho era intransponível para bicicletas, razão pela qual devia seguir pela estrada. Encarei o desafio com calma e consegui fazer o troço complicado. Perto das 3.00h da tarde cheguei a fonte de Irachi um dos marcos a não perder, pois neste local existe uma fonte de vinho para os peregrinos brindarem á felicidade. Esta dádiva da população local é muito bem vinda e vemos os peregrinos a encherem os cantis e a beberem para se hidratarem. Embora não goste muito de vinho, bebi quase um litro pois estava sem água e também para ajudar a esquecer o sofrimento do sol escaldante (30 graus) e das horas intermináveis em cima do selim. No fim do dia a dois kms de logrono encontrei de novo dois dos restantes ciclistas espanhois dos dias anteriores, que vinham pela estrada pois um deles estava de rastos e não conseguiu fazer o trajecto díficil do caminho que mencinei anteriormente. Estou no albergue (3€) que tem uma capacidade para 90 peregrinos e está cheio. Muitos jovens a fazerem o caminho! É realmente impressionante os milhares de peregrinos que por aqui andam e a forma como todos estes povos vivem de serviços prestados aos peregrinos.

Peço desculpa pelos textos deturpados, mas estou a escrever com uma caneta minúscula, num ecrã de 10 cms, às escuras, pois os peregrinos tem de recolher na sua cama às 21.00h.

Dia 2 – Percurso de Saint Jean Pied Port a Roncesvalles

Distância – 30Km
Tempo gasto – 3h40m

Consegui chegar a Saint Jean Pied Port ás 10.00h conforme previsto! Apressei-me a procurar a "Oficina do peregrino" para obter a minha credecial de peregrino que me dá acesso aos albergues e no fim do percurso servirá como prova da peregrinação para obter a Compostela.Consegui carimbar a credencial na Associação dos Amigos do Caminho de Santiago com o sr. Santiago, um voluntário que tenta ajudar os peregrinos que não param de chegar com as suas mochilas, cada uma maior e mais pesada que a outra.
Comprei ainda comida e abasteci-me de água com fartura pois a jornada ia ser dura. Não consigo descrever em palavras a dureza destes 37 kms com a subida constante e fatigante dos pirinéus. Atravessar os Pirineus de bicicleta carregado com 20 quilos não é uma tarefa muito fácil. As subidas eram duras mas extremamente gratificantes pela paisagem espectacular. A observação de centenas de águias e abutres foi a "cereja em cima do bolo". O desnível entre Saint Jean e Ibañeta, que é o local mais alto desta etapa do percurso (1.557 m), é de 1320 m. Contudo, chegei ao meu objectivo sem precalços e em boa forma às 16.00h! As outras bicicletas que sairam mais tarde apanharam condições climatéricas muito mais adversas e chegaram ao albergue já de noite. Ao longo do trajecto, convivi com mais de 50 peregrinos pedestres, desde Australianos, Espanhois, Franceses, Alemães , Belgas, Irlandeses, Ingleses, etc… 95% deles faziam o percurso a pé e uma grande maioria tinha partido sozinha, existia constantemente ao longo do dia muita entreajuda e partilha de alimentos com os menos prevenidos.
Ao chegar a Roncesvales e depois do banho e lavagem de roupa fui à "missa do peregrino" para tentar entender este ritual, onde o padre benze os peregrinos segundo uma benção secreta e milenar. Em seguida fui jantar, onde dividir a mesa na hora da refeição com outros peregrinos é a norma do caminho. Partilhamos, então, uma garrafa de vinho, uma de água, uma sopa (que até agora não descobrimos do que era, mas era quente), um peixe e batatas fritas, além de pão e um iogurte. O jantar foi na companhia de um dentista Italiano, um Australiano, uma brasileira e uma sueca. Comemos o "menu do peregrino" que é a refeição completa anteriormente descrita sem possibilidade de escolha e que custa 8€ no único restaurante desta povação, que teve 30 habitantes e 200 peregrinos no dia de hoje. Amanhã vai ser um dia aparentemente plano e de recuperação das forças. Fiquei hospedado numa camarata com mais sete elementos da mesma espécie (bicicleteiros) na pousada da Juventude local, pois o albergue estava quase cheio e dá sempre prioridade aos peregrinos a pé, os das bicicletes só podem entrar depois das 18.00h se ainda houver espaço.
Amanhã o grupo das bicicletas, seis espanhois e um portuga decidiu sair junto ás 7.00h, mas o meu objectivo e mais ambicioso do que o dos restantes, pelo que devo largá-los logo que possível e seguir o meu caminho ao meu ritmo!

Informação adicional:
Saint Jean fica às margens do rio Iraty e está muito bem conservada, apesar da enorme afluência de peregrinos e do forte comércio local de "recuerdos". É um local onde cada canto merece uma foto, com certeza um lugar para se lembrar. Suas ruas são íngremes e cobertas por pedras grandes. Na entrada da cidade, que tem quase cinco mil habitantes, tem um portal, que faz parte da antiga muralha da cidade. Saint Jean é datada do meio do século XII, quando o herói nacional francês Carlos Magno passou por essa região e, segundo diz a lenda, popularizou o caminho de Santiago.
Em Roncesvales existe uma cripta em que dizem estar enterrado o herói Roldan, um dos mais diletos companheiros de Carlos Magno.O episódio é contado em detalhes no épico francês Chanson de Roland, e fez de Roncesvalles um lugar bastante visitado. Vários autocarros com estudantes paravam em frente a uma placa comemorativa da famosa batalha , que vitimou mais de 40 mil soldados.
Várias vezes ao dia, o ritual da missa do peregrino acontece dentro da igreja de Nossa Senhora de Roncesvalles. A igreja não é grande e a sua nave central não tem mais do que 30 metros, e é toda em estilo medieval. Suas abóbadas recebem luz indirecta por meio dos vitrais. Lá dentro, quatro padres rezam a missa e alternam as suas orações em espanhol, francês e alemão. Música gregoriana, cantada pelos próprios religiosos enchem a nave. Às vezes, um trecho de uma obra de Bach era tocada pelo organista, também padre. É feita uma oração aos peregrinos e toda a encenação enche os olhos.

Até amanhã,

Paulo Reis

Distância – 37Km
Tempo gasto – 3h40m

Consegui chegar a Saint Jean Pied Port ás 10.00h conforme previsto! Apressei-me a procurar a "Oficina do peregrino" para obter a minha credecial de peregrino que me dá acesso aos albergues e no fim do percurso servirá como prova da peregrinação para obter a Compostela.Consegui carimbar a credencial na Associação dos Amigos do Caminho de Santiago com o sr. Santiago, um voluntário que tenta ajudar os peregrinos que não param de chegar com as suas mochilas, cada uma maior e mais pesada que a outra.
Comprei ainda comida e abasteci-me de água com fartura pois a jornada ia ser dura. Não consigo descrever em palavras a dureza destes 37 kms com a subida constante e fatigante dos pirinéus. Atravessar os Pirineus de bicicleta carregado com 20 quilos não é uma tarefa muito fácil. As subidas eram duras mas extremamente gratificantes pela paisagem espectacular. A observação de centenas de águias e abutres foi a "cereja em cima do bolo". O desnível entre Saint Jean e Ibañeta, que é o local mais alto desta etapa do percurso (1.557 m), é de 1320 m. Contudo, chegei ao meu objectivo sem precalços e em boa forma às 16.00h! As outras bicicletas que sairam mais tarde apanharam condições climatéricas muito mais adversas e chegaram ao albergue já de noite. Ao longo do trajecto, convivi com mais de 50 peregrinos pedestres, desde Australianos, Espanhois, Franceses, Alemães , Belgas, Irlandeses, Ingleses, etc… 95% deles faziam o percurso a pé e uma grande maioria tinha partido sozinha, existia constantemente ao longo do dia muita entreajuda e partilha de alimentos com os menos prevenidos.
Ao chegar a Roncesvales e depois do banho e lavagem de roupa fui à "missa do peregrino" para tentar entender este ritual, onde o padre benze os peregrinos segundo uma benção secreta e milenar. Em seguida fui jantar, onde dividir a mesa na hora da refeição com outros peregrinos é a norma do caminho. Partilhamos, então, uma garrafa de vinho, uma de água, uma sopa (que até agora não descobrimos do que era, mas era quente), um peixe e batatas fritas, além de pão e um iogurte. O jantar foi na companhia de um dentista Italiano, um Australiano, uma brasileira e uma sueca. Comemos o "menu do peregrino" que é a refeição completa anteriormente descrita sem possibilidade de escolha e que custa 8€ no único restaurante desta povação, que teve 30 habitantes e 200 peregrinos no dia de hoje. Amanhã vai ser um dia aparentemente plano e de recuperação das forças. Fiquei hospedado numa camarata com mais sete elementos da mesma espécie (bicicleteiros) na pousada da Juventude local, pois o albergue estava quase cheio e dá sempre prioridade aos peregrinos a pé, os das bicicletes só podem entrar depois das 18.00h se ainda houver espaço.
Amanhã o grupo das bicicletas, seis espanhois e um portuga decidiu sair junto ás 7.00h, mas o meu objectivo e mais ambicioso do que o dos restantes, pelo que devo largá-los logo que possível e seguir o meu caminho ao meu ritmo!

Informação adicional:
Saint Jean fica às margens do rio Iraty e está muito bem conservada, apesar da enorme afluência de peregrinos e do forte comércio local de "recuerdos". É um local onde cada canto merece uma foto, com certeza um lugar para se lembrar. Suas ruas são íngremes e cobertas por pedras grandes. Na entrada da cidade, que tem quase cinco mil habitantes, tem um portal, que faz parte da antiga muralha da cidade. Saint Jean é datada do meio do século XII, quando o herói nacional francês Carlos Magno passou por essa região e, segundo diz a lenda, popularizou o caminho de Santiago.
Em Roncesvales existe uma cripta em que dizem estar enterrado o herói Roldan, um dos mais diletos companheiros de Carlos Magno.O episódio é contado em detalhes no épico francês Chanson de Roland, e fez de Roncesvalles um lugar bastante visitado. Vários autocarros com estudantes paravam em frente a uma placa comemorativa da famosa batalha , que vitimou mais de 40 mil soldados.
Várias vezes ao dia, o ritual da missa do peregrino acontece dentro da igreja de Nossa Senhora de Roncesvalles. A igreja não é grande e a sua nave central não tem mais do que 30 metros, e é toda em estilo medieval. Suas abóbadas recebem luz indirecta por meio dos vitrais. Lá dentro, quatro padres rezam a missa e alternam as suas orações em espanhol, francês e alemão. Música gregoriana, cantada pelos próprios religiosos enchem a nave. Às vezes, um trecho de uma obra de Bach era tocada pelo organista, também padre. É feita uma oração aos peregrinos e toda a encenação enche os olhos.

Até amanhã,

Paulo Reis