Dia 7 – Astorga a Vega de Valcarce
Distância – 95Km
Tempo gasto 10h30m

Este dia começou mal, foi fabuloso e terminou ainda melhor. Começou ás
6.20h com uma subida progressiva de 25 kms até á cruz de ferro, local
onde cada peregrino é suposto deixar uma pedra trazida do seu país.
Infelizmente a minha pedra portuguesa já faz parte do caminho pois
voou com parte da minha roupa das mochilas á alguns dias atrás.
Tive muitas dores hoje nos tendões de aquiles de ambos os pés nos
primeiros 30 kms de agonia e dor. Depois de chegar ao topo da montanha
as dores melhoraram e senti algum alivio com a descida vertiginosa e
perigosa! Nesta montanha conheci pessoas únicas! Uma família Francesa
de 5 pessoas que ia percorrer o caminho nos proximos 3 meses, sendo
que eram mariodo, mulher e 3 fillhos. Os filhos tinham 2,4 e 6 anos. O
de dois anos era transportando pelo pai num carrinho de mão, e os
outros dois tinham as suas mini-bicicletas e andavam alegremente a
pedalar montanha abaixo. Avistei uma pessoa isolada e sentada no chão
no "meio de nada" e aproximei-me para saber se estava bem! Era um
jovem Frances que estava a tocar a sua guitarra. Durante a conversa
disse-me que tomara a decisão de ser músico e andava no caminho de
santiago á procura de inspiração para compor musica.
Quando ia a descer a montanha cheguei áo albergue do Tomás, um
ex-monge da ordem dos templários, que por aqui ficou e construiu um
albergue de peregrinos muito original. Deu-me conselhos para a
descida, falou-me da vida simples e descomplicada que levava no cimo
daquela montanha. Disse-me que não saia mais dali pois "encontrara o
seu caminho", nem mesmo no inverno em que armazenava comida e lenha
para 100 dias. Ofereci-lhe a bandeira dePortugal que trazia comigo
pendurada na bicicleta para que ele colocasse numa das paredes da casa
onde tinha algumas de outros países. Falei ainda com uma Americana e
um Neozelandes que estava com graves problemas nos joelhos após a
descida da montanha. Fiz a boa acção do dia e dei-lhe os dois
comprimidos anti-inflamatorios que trazia comigo para as
eventualidades do caminho. Ao fim de mais 95 kms estenuantes, cheguei
ao Albergue do Brasil, onde o Itabira Cunha me recebeu muito bem. Este
albergue foi aberto por ele há dois anos atrás e ele decidiu vir para
cá e está a fazer um esforço para mostrar a cultura brasileira aos
peregrinos de todo o mundo. O jantar foi típico basileiro e á mesa
estavam 1 Hungaro (que vem a santiago e volta a pé para casa), 1
Brasileiro, 2 Espanhois e 2 Finlandesas e aqui o Português. Todos nos
apresentámos e comemos em conjunto, falando cada um da sua experiência
pessoal sobre o caminho e de como ele nos tinha ensinado algo de muito
mágico. Estou agora a ouvir uma musiquinha brasileira, deitado numa
rede a descansar as pernas demasiado desgastadas.

Informação adicional:
saindo de Astorga e passados dez quilometros estáva em Rabanal. O
Monte Irago foi trepado em pouco mais de 2.30h. É duro mas faz-se!. A
verdade, porém, é que a subida, assim como todo o caminho e todas as
dificuldades ou alegrias são diferentes para cada um. Para mim, a
subida foi forte, mas muito menos do que esperáva. Amanhã tenho outra,
a do El Cebreiro, que também dizem que é pesada. A subida até
Foncebadón é feita por uma estradinha tortuosa. Dá para ver, a cada
metro que se sobe, toda a paisagem que ficou para trás. Ao lado da
estrada, pequenas flores brancas e amarelas dão um colorido todo
especial ao caminho. Realmente, é uma alegria para os olhos ver toda
essa cor (o únco problema são as abelhas e outros insetos em busca do
pólen, que a todo momento batem na cara).
Foncebadón fica a aproximadamente a quatro quilometros de Rabanal e é
uma vila praticamente fantasma. O último censo oficial aponta que
apenas cinco pessoas moram lá, embora existam muito mais casas do que
isso. Essa paragem funciona como um descanso para os próximos dois
quilometros que faltam para atingir o pico máximo do Monte Irago, onde
está colocada a Cruz de Ferro, a 1.504 m de altitude. A visão desse
monumento simples, mas especial, pois o monmento é um tronco de cinco
metros de altura em cuja ponta está fincada uma cruz de ferro, e que
tem em sua base um monte formado pelas pedras que os peregrinos atiram
para ter boa sorte. Alguns peregrinos amarram fitas, deixam mensagens
e objectos ao pé da cruz. Ao lado, foi construída a ermita de
Santiago, que está toda escrita com mensagens de peregrinos.
Depois da Cruz, foi um sobe-e-desce de mais ou menos três quilometros,
para, finalmente, começar a descida mais alucinante que fiz na
viagemiagm. Passei por Manjarin, um povoado abandonado, El Acebo,
cuja rua principal é a própria estrada e terminei a descida em Molina
Seca, outra cidade muito pequena (menos de mil habitantes). A próxima
cidade do trajeto foi Ponferrada, com mais de 65 mil habitantes e uma
boa surpresa para nós. A cidade é grande e tem vários atrativos, entre
eles um autêntico castelo de cavaleiros templários (soldados que
defendiam os peregrinos) e uma basílica muito bonita, da Virgen de la
Encina, além da igreja de San Andres, localizada ao lado do castelo.
Ponferrada tem o nome oriundo de uma ponte mandada construir pelo
bispo Osmundo, no século XI, para facilitar a vida dos peregrinos.

Amanã segue a viagem e js só faltam 167 kms…

Paulo Reis


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