Dia 3 – Roncesvalles a Puente la Reina
Distância – 75Km
Tempo gasto – 12h00m
Mais um dia de sol, duro mas com paisagens lindíssimas. Para mim foi o dia dos furos (3 furos) e da lama interminável. As emoções e ensinamentos que o caminho nos transmite estiveram presentes. No dia anterior disse a vários peregrinos que o meu objectivo era fazer 100 kms no dia seguinte e todos aqueles que conheciam o percurso me olhavam com um ar aterrorizado, mas só mais tarde sofri na pele o esforço a que me sujeitei para atingir essa meta. A partir de hoje não há mais metas, senão o de eventualmente chegar a Santiago de Compostela e mesmo esse passou a ser secundário para mim. O importante é percurso e não objectivo, isso fica gravado na mente de cada uma das pessoas que por aqui anda e é isso que ajuda a manter a sanidade mental de quem tem tanto que sofrer ao longo deste fantástico caminho. Diariamente passo de estados de espíritos de extrema alegria para em seguida estar desesperado e a pensar deistir, mas pedalada atrás de pedalado lá sigo sempre o meu caminho, encontrando centenas de peregrinos com um sorriso nos lábios. O dia de hoje começou às 7.00h quando um dos meus companheiros espanhol me acordou conforme combinado. Como já tinha arrumado praticamente tudo na noite anterior despachei-me e parti sozinho com a promessa de nos encontrarmos os 5 betetistas mais adiante. Logo cedo já havia muitos peregrinos a pé em marcha, parei para tomar um belo pequeno-almoço no único bar aberto na povoação vizinha que aos poucos foi ficando cheio. Encontrei aí os meus amigos Nick (Australiano), Ana Paula (Brasileira) e muitos outros. Foi curioso assistir ao Nick que decidiu deitar for a alguma da roupa que trazia pois o peso da mochila era demasiado. Isto foi acontecendo com mais peregrinos ao longo do dia, pois via-se roupa espalhada ao longo do caminho. A lição que tiro disto, é que as pessoas conseguem despojar-se de muito daquilo que lhes traz conforto quando assim o desejam! Juntei-me nessa altura ao "grupo dos espanhois das bicicletas" e seguimos juntos. Dois deles andaram mais e eu vinha na conversa com um dos outros quando ele furou um pneu. Remendámos e seguimos, para 500m á frente estar outra vez furado pois tinha sido mal reparado. Não me alongando muito, este processo repetiu-se 3 vezes perdemos 1 hora. Comçei a ficar farto da situação, disse adeus e segui sozinho na primeira subida que vi. Nas duas horas seguintes pedalei sozinho, para depois encontrar os outros dois elemento do grupo. Diss-lhes que os outros deviam vir com uma hora de atraso, pois quando os larguei o ritmo era baixo. Acharam que eu devia vir a um ritmo muito forte e ficaram logo para trás. Uns 5 kms mais á frente tive o meu primeiro furo e eles seguiram pois eu fui rápido e estava quase pronto quando passaram. Entretanto passam também os dois espanhois retardatários, que afinal não eram assim tão retardatários como isso! Resumindo encontrá-mo-nos todos uns kms á frente e decidimos que iamos todos juntos, pois afinal tinhamos ritmos identicos. Fui por ar no pneu numa bomba de gasolina e eles seguiram a estrada onde seria suposto esperaem por mim mais adiante. A subida era imponente, deixei de indicações do caminho e fui subindo, estranhando não os encontrar! Ao chegar ao alto encontrei alguns peregrinos a pé e uma placa e fiquei mais descansado e a pensar que pedalava como uma lesma, pois não conseguira juntar-me ao grupo. Embrenhei-me na floresta na subida do alto do erro. O nome sujestivo deste alto deu-me que pensar muito nas horas seguintes porque: Na floresta tive uma sensação "Deja vue" e fiquei assustado. Pois tudo o que via tinha quase a certeza que era conhecido! Só me apercebi que estava a fazer o mesmo percurso de novo quando encontrei as pegadas do local onde reparara o furo. Fiquei tão chateado, desesperado e sem saber o que fazer. Decidi o obvio, descer de novo a montanha até ao ponto onde me perdera para constatar o terível erro que o grupo cometera por partirmos juntos, em amena cavaqueira e distraidos. Não voltei a ver os outros e pensei que tinha sido o burro e que eles se tinham apercebido do erro e regressado. Isto, o facto de ter perdido 1.30m e feito 10 kms extra atormentou-me o resto do dia. O que valeu foi a beleza do enlameado caminho, onde a certa altura mergulhei vestido no rio gelado para me limpar de tanta lama. O dia foiseguindo, pasei por Pamplona , e mal sabia eu que teria de subir um outro monte, também com o nome sujestivo de "Alto do perdon". A partir de hoje passei a ter medo da palavra "alto" em espanha, pois para mim, até ao presente momento, só significa sofrimento brutal. Com muito custo conseguí chegar ao refúgio de "Puente la reina", lavei a roupa, tomei banho e quando ia jantar aparecem os 4 betetista, que j ulguei nunca mais vir a vé-los! Resumindo, o esperto fui eu que desci o monte de novo e eles continuaram e desceram para mais longe ainda e chegaram ao refúgio 2 horas depois de mim, num estado muito débil! Amanhã vou ter de seguir viagem, agora sem grandes planos, nem vaticínios sobre a dificuldade da etapa.
Dados adicionais :
A primeira cidade depois de Roncesvales é Burguete, uma cidade praticamente fantasma onde não se vê ninguém na rua. E assim foi em todas as vilas em que passei durante o dia, excepto em Pamplona, cidade grande, moderna e centro regional de Navarra.
No meio do caminho fica Zubiri, onde existe uma ponte gótica datada do século XV construída sobre o rio Arga. A pequena Larrasoaña, no vale do Esteribar, também tem uma ponte medieval do século XV, chamada "puente de los bandidos", por causa dos bandoleiros que ficavam à espreita dos viajantes para roubá-los. Hoje, essa situação não existe. Desde o século XII a cidade é citada em relatos peregrinos. Nesta zona avistei muitos ciclistas de bicicleta de estrada pelos simples motivo: primeiro, porque a topografia é excelente para quem aprecia bicicleta, com várias subidas fortes e depois porque nessa região vive o pentacampeão do Tour de France, Miguel Induraín, que nasceu em Villava, localidade bem próxima a Pamplona. No caminho, vimos grandes plantações de aspargos, famosíssimos em todo o mundo e uma espécie de tradição gastronómica local, ao lado do jamón serrano, esse sim preferência nacional.
A chegada a Pamplona foi um pouco complicada. A cidade é grande e tem vias de acesso muito movimentadas. É preciso muito cuidado e atenção aos caros. Ao chegar, uma das primeiras visões é a da Catedral Metropolitana, construção datada do século XIII e modificada através dos tempos por inúmeros arquitetos (o último deles refez a fachada, agora em estilo neoclássico).
Na parte velha de Pamplona, as ruas não têm mais de cinco metros de largura e mal passa um carro. A situação piora porque a cidade está em obras. Essa parte de Pamplona é belíssima e está bem conservada. A arquitetura local é muito interessante e forma uma espécie de mosaico pelas ruas estreitas.
Em Puente la Reina, . Na entrada existe a , uma estátua de peregrino, para simbolizar o ponto onde os caminhos de Roncesvalles e Somport se encontram para seguirem juntos até Santiago de Compostela. A cidade é toda em estilo medieval, com ruazinhas estreitas e prédios bem conservados. A maior atraçao, porém, é a ponte sobre o rio Arga, construída para ajudar os pregrinos na travessia entre o ano 1000 e 1035. Em estilo romano gótico. Suas igrejas mantem o mesmo estilo que encontramos desde Saint Jean Pied Port, cada uma delas com objetos ou histórias muito interessantes.
Até amanhã,
Paulo Reis