Dia 5 – Burgos a Sahagun

Distância – 140Km
Tempo gasto – 11h00m

O dia começou cedo ás 7.30h com uma visita á Catedral de Burgos e
segui viagem. Encontrei dois idosos alemães em bicicleta e fomos-nos
cruzando várias vezes e sorrinfo, pois comunicar era díficil pois eles
só falavam alemão! A certa altura perdi-os de vista e só os voltei a
ver6 horas mais quando parei para almoçar. Para mim hoje foi o dia dos
planaltos e panícies intermináveis. Pedlei durante 10 horas sempre
acima dos 800m do nível do mar com temperaturas de 38 Graus. O tempo
muda por aqui de uma forma muito abrupta, ainda ontém estiveram 10
grsus e hoje um calor infernal. O terreno hoje era bastante
acidentado, mas sem grandes desniveis o que contribuiu para eu ter
conseguido fazer 140 kms pelo segundo dia consecutivo. Fisicamente
sinto-me muito bem e depois de 560 kms só me doi um pouco o Tendão de
Aquiles de um pé devido ao esforço.
Logo pela manhã avistei no mei de um bosque uma casita rústica pintada
com cores psicadélicas e fui investigar. Era um albergue de hippies, o
cheiro que vinha de dentro do albergue era bastante estranho. O dono
esplicou-me que tinha vindo fazer o caminho á dois anos atrás e
avistou uma casa em ruínas no meio de nada e ocupou-a pois
apaixonou-se pelo sitio e pelas pessoas que por ali passavam
(peregrinos loucos de todo o mundo). Começou a ir comprar bebidas á
cidade mais próxima e abrir um bar no meio de nada, conforme foi
ganhandouns trocos, pintou e construiu o tecto. Hoje em dia gere o
albergue com a namorada e durante seis meses por ano vive das
contribuições dos peregrinos.
À parte desta paragem, tive um dia monótono, em que ultrapapassei
milhares de peregrinos a pé e conheci um casal de italianos que
seguiam pela estrada e que me tentaram convencer a seguir com eles,
pois seria menos duro e eu estava bastante cansado. Recusei, pois
mantenho-me fiel á minha vontade de seguir sempre pelo caminho
aconteça o que acontecer!
Hoje inaugurei um ritual chamado "Happy hour do peregrino Tuga" e
passo a explicar: Como só tenho uma pilha recarregável para ouvir
música no MP3 durante cerca de horra e meia, tenho de escolher um
momento de estrema felicidade durante o dia para gozar deste
privilégio. Hoje o momento zen do happy hour foi quando subi aos 1200m
a pé arrastando a bicicleta com 25 kgs, algo que já domino na
perfeição e que até já me dá algum gosto masoquista e em seguida desci
durante meia hora sem ter de pedalar.
Ao chegar ao Albergue de Sahagun vi um velhote de barbas brancas, com
ar debilitado e perguntei se precisava de ajuda? Respondeu-me que
apenas lhe doiam muito os pés. Começamos a conversar e disse-me que
tinha 82 anos e esta era o terceiro ano consecutivo que vinha a pé até
Santiago, desde a Bélgica. Fazia uma média de 40 kms ao dia (um
peregrino normal faz 20-25 kms ao dia) e alimenta-se apenas de frutos
secos, água e vinho! Uma personagem fantástica!
A confiança vai aumentado a cada dia e a meta final já não assusta e
até estou a gostar de sofrer tanto. Chamem-me masoquista, mas tudo que
vejo e vivo por aqui são ensinamentos preciosos e exercicis de
auto-conhecimento fantásticos.

Informação adicional:

A saída de Burgos foi fácil. Apanhei uma estrada nova, limpa e bem
sinalizada – em direção a León. Os primeiros 20 quilómetros foram
fáceis, apesar das subidas, que, afinal, não eram tão difíceis, embora
intermináveis. Até então, nada de vilarejos ou povoados, uma novidade
para mim, que passei os últimos dias a parar a cada 10 quilômetros no
máximo para ver e fotografar uma vila ou uma igreja com no mínimo 200
anos de existência.
TDurante grande parte do dia os caminhos são absolutamente paralelos
em grande parte do percurso e a distância entre eles não chega a 10
metros.
Depois de quase 40 quilómetros, entrei num vilarejo chamado
Villasandino. A sua igreja, dedicada a Nossa Senhora de la Assunción,
guarda ainda traços muito marcantes da época em que foi construída, no
século XIII. Ampla, com uma nave central única com mais de 20 metros
de altura, com uma decoração despojada, parece que continua igual ao
que era na Idade Média. O vilarejo, que já teve 1.600 habitantes, não
tem hoje mais do que 150, a maioria aposentados. A partir daí foi
percorrer as planícies de Castilla e Leon em direção à Palência foi,
como era de esperar, uma dureza, principalmente por conta do sol que
não deu tréguas e um vento de frente que não tornou a minha vida nada
fácil. De Castrojeriz passei por Itero Del Castillo, a última cidade
de Castilla e Leon antes de Palência. Antes de chegar em Frómista,
passei por Boadilla Del Camino, um vilarejo com 200 habitantes. Passei
por Frómista com vontade de chegar a Carrión de los Condes, o detalhe
negativo para o Caminho é que a via dos peregrinos, totalmente
sinalizada com postes que continham uma espécie de azulejo azul com um
alto-relevo da concha-símbolo do Caminho em amarelo, foram todos
surrupiados por peregrinos. É uma pena que existam pessoas que ainda
pensam que é engraçado levar "souvenires" destes para casa. O Caminho
perde com isso, os peregrinos ganham má fama e aqueles que roubaram as
peças com certeza não puderam utilizá-las, pois muitas estavam
partidas na berma do caminho. Sahagún é onde me encontro de momento,
uma cidade com pouco mais de 3 mil habitantes, distante cerca de 50 km
de Carrión de los Condes.

Amanhã á mais…

Paulo Reis


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