Dia 9 – Portomarin a Santiago de Compostela
Distância -105Km
Tempo gasto 10h30m

Cheguei finalmente a Santiago demasiado cansado e decidi que não vou continuar até Finisterra! Pensei nisso, mas a dor num dos cacanhares nos ultimos 20 kms tirou-me essa ideia de vez. Cheguei a Santiago a coxear bastante e senti-me mal por voltar á "civilização". Penso que com descanso vou recuperar bem, pois para além do pé dorido e do traseiro muito amassado sinto-me bem! A etapa começou de noite ás 6.15h e foi de novo um sobe e desce constante durante 100 kms. A vontade quase que agonizante de chegar a Santiago fez-me esgotar todas forças que ainda me restavam.
Domingo em Santiago é sinónimo de invasão de excursões de portugas, algo nada bonito de se ver! Por outro lado não conseguia comunicar com esta gente depois de tudo o que passei nos últimos 9 dias! O barulho e a confusão das ruas fizeram-me ir visitar a Catedral á pressa cumprindo os rituais adequados, comer qualquer coisa, comprar o bilhete do autocarro para a viagem de regresso e vir-me deitar. Tenho de me habituar aos rituais da sociedade moderna, depois de ter andado numa viagem mágica! Estou bastante triste por tudo ter acabado desta maneira, mas o que vale é a viagem e não o final.

Informação adicional:

Saí de Portomarim de madruhsd. Esta cidade quase que é uma espécie de cartão postal. Logo na entrada existe uma escada que termina na Capilla de las Nieves. Esta cidade tem a particularidade de ter sido mudada de sítio em 1962 e um de seus maiores monumentos, a igreja de San Nicolas de Portomarín , saiu de seu lugar original e foi reconstruída num local mais alto. A praça onde ela se localiza é ampla e tem um monumento ao peregrino em pedra. Subi em seguida um bocado até chegar em Ventas de Narón. Depois, um sobe-e-desce terrível até Palas de Rei, que fica local baixo. Daí para a frente foi só contar os quilómetros até Arzúa, não sem antes passar numa cidadezinha muito simpática chamada Melide.
Em Arzúa faltavam somente cerca de 40 quilómetros para chegar a Santiago de Compostela. A sensação que tive por esta altura foi um misto de euforia, alegria e vontade de chegar. Qualquer que seja o motivo de se fazer uma viagem como essta, é inegavel a força que nos empurra pelo caminho adiante. Cheguei ao Monte do Gozo, que fica a quatro quilómetros de Santiago, com muito sol, o que permitiu uma boa visão da cidade. O monumento que existe no local é de gosto duvidoso para quem vivenciou nas últimas duas semanas toda uma estética romana, gótica e até renascentista. De qualquer maneira, o mundo segue em frente e esse monumento, daqui a alguns anos, também terá o seu valor histórico.
A chegada à catedral de Santiago foi emocionante, sentei-me no chão em frente á catedral com milhares de pessoas em volta e consegui abstrair-me da confusão e gozar de um momento pessoal. Tudo aquilo que se espera está lá. A imponência, a beleza, a onipresença de um símbolo religioso de grandeza suficiente para ser único e ao mesmo tempo absoluto naquilo que pretende.
A Catedral tem um quê de autêntica em relação ao tempo de sua existência. Ao contrário das belíssimas catedrais de Burgos e León, a catedral do apóstolo Santiago é acessível e os milhares de peregrinos que vão ao seu encontro podem tocar, ver e sentir que conseguiram terminar aquilo que começaram. Por dentro, a igreja é belíssima, e parece crescer a cada passo em direção ao altar, todo dourado, com um brilho intenso e com tantos detalhes que é inútil tentar enumerá-los. O botafumeiro pendurado por uma corda com um sistema de roldanas, é um espetáculo à parte, assim como a configuração dos tubos do órgão da igreja, que formam um desenho ilógico de cada ângulo que é observado. O botafumeiro é um equipamento que foi muito utilizado no passado distante para fazer a dispersão do incenso que era queimado na igreja para minimizar o mau odor proveniente dos peregrinos, que chegavam cansados e estropiados na igreja. A cripta do apóstolo fica abaixo do solo, é feita em prata e tem um ar solene e de respeito. Os peregrinos enchem as naves (a catedral tem três, a central enorme e outra duas laterais pequenas) e não se cansam de fotografar toda a maravilha que vêm. É a grande festa dos peregrinos.
O peregrino que chega até suas portas, com qualquer finalidade, sente-se diante de algo muito maior do que um simples edifício. As imagens de Santiago no topo da catedral dão as boas-vindas e a certeza de que a meta foi alcançada.Na casa do Deão foi colocado o último carimbo na credencial do peregrino, e recebi um tipo de diploma por ter completado a jornada, a chamada Compostela, onde o nome do peregrino é escrito em latim. É um troféu para a maioria dos peregrinos, que guardarão aquele documento como prova de um feito importante nas suas vidas, e realmente é. Andar ou pedalar por todo o norte da Espanha em busca desse papel é algo que não se pode ignorar.

Obrigado pelas mensagens de apoio e até mais!

Paulo Reis