Dia 6 – Sahagun a Astorga

Distância – 110Km
Tempo gasto 10h00m

Hoje decidi experimentar a técnica de acordar cedo e começar a pedalar de noite. Começei as 5.45h e dei-me mal, pois até amanhecer perdi-me constantemente. Tive uma situação curiosa quando perdi o caminho e fiquei no "meio de nada" sem saber o que fazer e decidi seguir o instinto e traçar o meu próprio caminho pelo meio da lama a pé por 3 kms (foi optimo). Logo em seguida fui brindado com uma area de serviço, onde lavei e lubrifiquei o meu meio de transporte. À parte disto, o dia foi muito identico ao de ontem, com um sol abrasador e muitos kms nas pernas. Passei a noite apreensivo, pois no dia anterior tinha tido uma dor forte no tendão de aquiles e sofrido horores para terminar a etapa. Durante a noite tive as dores presistiram e pensei que o meu caminho podia estar comprometido. Após os primeiros kms do dia a dor desapareceu e depos de mais uma centena de kms felizmente não voltou a aparecer. Ao fim deste sexto dia e com 550 kms nas pernas começei a sentir o peso real dos kms acumulados e das inumeras horas a pedalar.Sinto-me fraco, debilitado e desidratado. Já só faltam 250 kms para chegar a Santiago, mas amanhã voltam as montanhas e vou ter de passar pelo ponto mais alto do percurso a 1500m de altura e não sei se vou conseguir ir muito longe amanhã?? A meio do dia passei por Leon onde tive dificuldades em movimentar-me, tendo perdido 1.45h a ver os monumentos e a atrevessar a cidade no meio do transito intenso. Hoje o dia foi extremamente monótono e terminou mais cedo por volta das 16.30h. O gerente do Albergue é um Portugues de Viseu que me pos ao corrente que dois portugueses em bicicleta e uma portuguesa a pé tinham por ali passado nos dias anteriores. Encontrei também no albergue um miúdo Italiano com quem falara em Burgos que está a fazer o Caminho por estrada numa "bicicleta pasteleira". Nos últimos dois dias fez as mesmas etapas que eu só que saiu mais tarde e sofreu muito mais.

Nota extra: Hoje durante as longas horas de intropecção e busca da razão por estar a passar por tudo isto, lembrei-me da primeira vez há 8 anos atrás que ouvi falar deste caminho milenar e desde aí sonhei percorré-lo. Soube do caminho através de um amigo que é uma pessoa muito especial e um exemplo de vida! Chama-se Ranimiro e é um praticante de parapente brasileiro que teve a infelicidade de perder uma perna num acidente! Desde aí nunca mais parou de participar em aventuras, como continuar a voar de parapente, fazer Rafting na Nova-zelandia, escalar montanhas de 8000m no Tibete e fazer o caminho de santiago em bicicleta, tudo isto com a sua única perna. Desde que li o seu relato da viagem e vi as suas fotografias que iniciei o meu "Caminho de Santiago" em sonhos…Hojr estou a concrtizá-lo.

Informação adicional:
Depois de Sahagún, passei por Calzada Del Coto e, novamente por falta de sinalização, perdi a entrada para El Burgo Ranero. Segui em direção a Mansilla de las Mulas. Daí para León foi uma pedalada só, de 20 quilometros. O sol torrava e só começei a subir um pouco quando faltavam quatro quilometros para chegar. Depois dessa subida, uma boa descida até a cidade, que tem cerca de 140 mil habitantes. A viagem até Leon é monótona e sem sentido, há pouca coisa para ver e é razoável imaginar que o peregrino que vai a pé, com um sol destes na cabeça por quilometros sem fim, começe a imaginar coisas. Ontem, vi varios peregrinos com princípio de insolação, incluindo a "minha pessoa".
Em Leon, o passeio pela cidade levou-me à Catedral de Santa Maria de la Regla, a catedral de León, uma das obras-primas do gótico espanhol e que rivaliza com a catedral de Burgos como uma das principais construções religiosas da Espanha.
A catedral de Santa Maria foi construida no século XII. León tem quase 140 mil habitantes, um trânsito maluco.
Passei por uma rua que exibe uma espécie de castelo, obra de Antonio Gaudí, datado da segunda metade do século 19 e que hoje abriga uma instituição financeira. Na mesma rua, vários bares colocam mesa e cadeiras no passeio para que as pessoas possam tomar café e admirar o movimento. Passei também pela Basílica de Santo Isidoro, cujos registros datam de 1063.
Pedalei 55 kms de León a Astorga, cidade com pouco mais de 12 mil habitantes e muito simpática. Resovi fazer mais estes kms pois cheguei cedo a Leon e resolvi adiantar o passo e diminuir o sofrimento que me espera amanhã, quando subir o temível monte Irago até Foncebadón, onde está a Cruz de Ferro, para possivelmente pernoitarmos em Ponferrada.
A viagem até Astorga não teve qualquer emoção. Passei por vários vilarejos – Trobajo Del Camino, La Virgen Del Calmino, Valverde de La Virgen, San Miguel Del Camino e Villadangos Del Páramo – e, em nenhum desses lugares vimos qualquer sinal de vida. As igrejas estavam fechadas e não havia nenhum movimento nas ruas.
A situação só melhorou quando entrei em Puente de Orbigo, uma ponte sobre o rio Orbigo, conhecido por ser palco de inúmeras batalhas, entre elas aquela em que o rei Alfonso III, "el Magno", enfrentou as tropas cordobesas, no ano 900. Porém, o nome de "Passo Honroso" deve-se ao facto de que em 1434, o cavaleiro leonês Suero de Quiñones e nove seguidores, enfrentaram, por trinta dias, todos aqueles que ousaram passar pela ponte, como "resgate" de sua prisão de amor por uma certa senhora. Depois disso, Suero foi a Compostela e entregou uma bracelete de ouro de sua dama ao apóstolo Santiago. É por essa e outras histórias, que se contam aos milhares, que o caminho de Santiago se torna mágico.
Em seguida, quase que pegado a Puente, está o Hospital de Orbigo, local onde foi mandado construir um hospital para ajudar os peregrinos.
Astorga é uma cidade com 2 mil anos de história e é como se fosse um imenso monumento. Existe uma muralha que passa ao lado do convento dos Padres Redentoristas, a Catedral de Santa Mariía, em estilo gótico e que teve a sua construção iniciada em 1471. Ao seu lado, o Palácio Episcopal, uma obra em estilo gótico de Antonio Gaudí, terminada em 1913, e que abriga o Museu de Los Caminos.

Amanha continua…

Paulo Reis