Eu nunca tinha imaginado que ao afastar-me de tal forma da vida rotineira me pudesse fazer entender o mundo de uma forma diferente!  É engraçado que depois de uma viagem despojada como esta começamos a ver, angustiados, a quantidadede pessoas que nunca param para recarregar as baterias, levando vidas atribuladas e vazias de conteúdo.

Como tudo começou para mim? É difícil precisar, mas posso dizer que de repente ficou absolutamente claro, e não me perguntem como, que eu deveria, preparar-me para percorrer uma rota medieval que cruza todo o norte da Espanha desde a sua fronteira com a França até chegar à cidade de Santiago de Compostela.

A partir de determinada altura esta ideia tomou conta dos meus dias e também das minhas noites, levando-me a ler tudo o que encontrei escrito sobre o Caminho de Santiago, e a contar as horas até ao instante em que eu daria meu primeiro e inseguro passo em direção d Santiago.

Uma vez no Caminho, aprendi como é difícil gerir o corpo e a cabeça quando se percorre mais de 850 quilómetros. Dormi em Albergues pouco confortáveis, comi o que encontrava à venda e entreguei-me de corpo e alma aquela vida totalmente despojada. Foi enriquecedor conviver com gente do mundo inteiro e de todas as idades, desde uma criança de 3 anos até um velhote de 87. Tive o privilégio de fazer vários caminhos dentro do mesmo Caminho! Fiz um caminho de desafio e aventura, do conhecimentos histórico e fiz, sobretudo, o caminho para uma vida renovada.

Desde que regressei que os meus afazeres diários mudaram radicalmente. Hoje só sinto vontade de colocar a minha energia naquilo que de facto me interessa. Como li algures uma frase de alguem que percorreu um Caminho semelhante e indentifico-me com as seguintes palavras: "Descobri que havia passado a maior parte da vida buscando o ter. Pior, muitas vezes nem percebia que estava fazendo um esforço tremendo para parecer ter, não era nem para ter. No Caminho de Santiago, descobri o que realmente significa ser, simplesmente ser".

Seja lá o que eu possa ter ido buscar (e duvido alguma vez vir a perceber a razão), a verdade é que realmente encontrei, pois até agora, e creio que por toda a minha vida, o Caminho continuará a mostrar-me as  escolhas acertadas e a guiar-me na direção de me tornar alguém mais tolerante e feliz. Vou compreendendo, um pouco a cada dia, a natureza generosa de tudo aquilo que pude receber do Caminho de Santiago.

 

Paulo Reis